O INÍCIO
Fogos de artifício iluminavam os céus. O sanfoneiro abria e fechava o fole como se fosse sua última noite. A casa estava repleta de convidados que bebiam e comiam sem parar. A cachaça, fabricada no alambique da fazenda, era o orgulho do fazendeiro que exportava até para a capital, era tirada de um tonel de madeira e servida em cabacinhas. Os casais dançavam fazendo a poeira levantar enquanto o churrasqueiro gritava: – carne assada para toda moçada! Sirvam-se para não sobrar! E a festa rolou a noite inteira, era o batizado de Messias, filho de Cel. Afonso Calado e Dona Sara Rosa Calado, sua esposa. Já tinham uma filha, Rosalma, com seus dez anos de idade, como já haviam tentado esses anos todos e Dona Sara não conseguia mais filhos depois de dois abortos involuntários. Fizeram uma promessa: se ela engravidasse e fosse menino, ele teria que ser Padre, como agradecimento a Deus pela dádiva concedida. Na festa estava presente o pároco local, Padre André, muito querido pela família e por toda cidade, o mesmo que fez o casamento de Cel Afonso com Dona Sara, batizou a sua primeira filha, a menina Rosalma e, agora, o filho, com o nome de Messias, que recebeu o juramento e a promessa do Cel. Afonso e Dona Sara em dar o filho à Igreja.O compromisso foi levado tão a sério que o Coronel acabou por comprar uma casa na cidade para facilitar a freqüência à Igreja e o apoio aos trabalhos religiosos.
Messias foi crescendo e sendo orientado pela família e pelo Padre André, que possuía uma cadeira cativa no almoço da família aos domingos e sempre elogiava as deliciosas guloseimas preparadas com esmero pela anfitriã.
Messias se transformou em um belo jovem, alto, olhos negros, cabelos lisos penteados para trás, sempre com ar sereno e compenetrado, de pouca fala, mas muito observador, demonstrando sempre muita astúcia nos negócios, muito disciplinado e obediente.
Em alguns momentos, Messias chegou a questionar a vontade do pai, chegando às vezes a reclamar com sua mãe por não estar certo de sua vocação. Achava que poderia ser um grande erro que estaria cometendo na vida. Em várias ocasiões pensou em abandonar sua família, buscar outros horizontes e fugir das imposições do pai, mas nunca teve coragem, mesmo porque conhecia bem o pai e sabia que seria como uma punhalada em seu coração e não podia medir as conseqüências para toda família.
Terminado o segundo grau, sentiu que era o momento de decidir sua vida, apesar de não estar convicto de suas reais vocações religiosas, não tinha forças e a vontade do pai prevalecia. Nesta idade já tinha namorado algumas garotas na escola e sentindo-se que um Padre opta pelo celibato, era uma difícil decisão, pois já conhecia o sabor dos desejos da carne. Os namoros eram sempre sem conhecimento do pai, que não admitia ver o filho desrespeitar sua vontade, pois no seu pensamento o filho tinha que ser casto e assumir o celibato em seguida.
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